A
CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO: O OBSERVADOR E O OBSERVADO
Por P.G. Pinheiro II
A física quântica[1]
colocou em xeque o papel do observador na ciência contemporânea[2].
Antes o pesquisador (observador) era considerado independente da sua pesquisa
(coisa observada). Detalhe que muitos ainda cultivam esta ideia, pois a ciência
ocidental se consolidou baseada no pensamento cartesiano[3].
Dentre o escopo da física quântica,
o Princípio da Incerteza, proposto
pelo físico Werner Heisenberg, teve um grande impacto sobre a maneira de fazer
ciência. Por este princípio ficou-se sabendo que grandezas físicas de outrora
não eram facilmente determinadas; por exemplo, posição e velocidade de um corpo
não são determinadas com exatidão, pois ao se medir um, o outro é
automaticamente afetado de maneira que a sua determinação exata fica imprecisa.
Este é somente um exemplo de como
os pesquisadores tiveram que reformular suas explicações da realidade a partir
dos trabalhos envolvendo o mundo subatômico. Neste ponto, se você for
questionador, irá rebater esta exposição com algo parecido com a afirmação:
“ah, mas isso só ocorre porque estamos falando de átomos, coisas muito
pequenas...”. Não esqueçamos que a ecologia[4]
– a qual não é determinista, apesar de muitos ecólogos teimarem nessa linha de
pensamento – nos ensina muito bem: dependendo da escala as explicações para um
mesmo fenômeno pode ser diferente. O próprio Heisenberg disse: “toda palavra e
todo conceito, por mais claros que possam parecer, têm apenas uma limitada gama
de aplicabilidade”[5].
No mundo quântico, “coisas”
sozinhas não fazem sentido. São as interconexões de determinam com o todo e a
parte será (é a própria ecologia!). Portanto, se o observador faz parte do
todo, ele não pode ser tratado como a parte e sim como construtor altamente
correlacionado com o que é observado. Então, se o resultado de uma pesquisa é
“vendido” como independente de quem realizou, duvide-o!
O Cientista (pesquisador ou
observador) não está isolado de seu trabalho, pois os seus resultados são
frutos de interconexões que não estão isoladas do seu ser e, consequentemente,
de sua mente (totalidade parcial heideggeriana[6]).
O produto do trabalho científico é, antes tudo, produto de conceitos,
pensamento e valores do pesquisador[7]
(o mal é para quem é bom, no entanto, o que é o mal para quem é mal?).
Se a ciência consiste busca pela
verdade, então, porque acreditar em uma verdade quando, por definição, está
sempre estará sendo procurada. Afinal, “se a ciência é a busca pela verdade,
por que não divulgarmos a maneira pela qual ela é feita?”[8].
[1] Ramo da física (surgida nas
primeiras décadas do século XX após os trabalhos de Max Planck, Albert
Einstein, Neils Bohr, Loius de Broglie, Werner Heisenberg, Erwin Schröndinger,
Wolfgang Pauli e Paul Dirac) que trata das explicações da natureza do mundo
subatômico.
[2] FRITJOT CAPRA. 1982. Ponto de Mutação. Editora Cultrix.
[3] Referente à filosofia
proposta pelo francês René Descartes
(), onde a coisa material (físico, corpo,...) está separado da coisa espiritual
(mente, alma, ...). O principal trabalho deste filósofo e alicerce do
pensamento científico é “O Discurso do Método”.
[4] Área das Ciências Biológicas
que estuda como são determinados padrões de distribuição e abundância
resultante das relações dos seres vivos entre si e/ou das relações destes com o
ambiente.
[5] Transcrito como em: FRITJOT
CAPRA. 1977. O Tao da Física. Editora
Cultrix.
[6] Relativo ao filósofo alemão
Martin Heidegger (1889-1976). A totalidade parcial é aquela alcançada pelo Ser
dentro da conjuntura atual, pois para se alcançar a totalidade em todo seu
sentido deveria-se rejeitar a metafísica tradicional, o tecnicismo, a
banalização e o anonimato (elementos presentes na cultura contemporânea).
[7] FRITJOT CAPRA. 1982. Ponto de Mutação. Editora Cultrix.
[8] DAVID RUELLE. 1991. Acaso e o Caos. Editora UNESP.
"O mais poderoso dos seres é o indivíduo e sua mente, pois ele, de frente e confrontando a si mesmo, é capaz de atingir qualquer realidade que desejar. Construí-la, para ser exato! Foi assim que construiu a idéia de deus, a mais potente das armas nucleares, a arte, enfim, a si mesmo ao olhar para o infinito do espaço e perceber a imensidão da força, da potência que há em seu interior. Então, o indivíduo toma a decisão de compreender isso e reduz essa percepção para sua subjetividade, domínio de seus sentidos, onde concretizará e dará forma ao mais sublime subproduto da natureza que é a inteligência.
ResponderExcluirE uma vez concluído o processo, retorna objetivamente para diante dos seus iguais e expõe agora um mundo novo, ultrapassando tudo e todas as idéias carcomidas pelo tempo que não pára, e está muito à frente de seus contemporâneos, que não tem olhos para ver e a refinada percepção para entendê-lo (...)"