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"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"
(Douglas Adams, 1952-2001)

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

LUCTO

O devir

Definir a vida é algo que escapa ao ser finito, justo por essa condição. Todavia, as infinitas relações numa prática diária tende a ser a aproximação dessa definição, pois a vida é inesgotável e, sendo assim, o individual não atinge a real dimensão do que seja ela, mas alguns, como seus exemplos, conseguem sugerir passos no sentido de facilitar o entendimento.

O professor Benedito Nunes é um desses exemplos. E quem manteve contato, por menor que fosse, com ele não poderia deixar de perceber isso, saindo transformado do encontro.
O mestre era puro devir. E isso o tornara sábio. É tanto que para perceber tal condição em que chegara era necessário a ousadia de confrontá-lo, sem receios.
 
Em uma de suas aula sobre niilismo isso tornou-se de uma clareza solar, quando ao final de sua explanação pediu que perguntas fossem feita, dizendo que elas poderiam ser sobre qualquer coisa.
 
Ora, nada mais perfeito a um sábio, pois, após discorrer sobre o nada sua proposta permitiu que todos aprendessem a partir das condições apresentadas, inclusive o próprio.
 
Naquele momento não havia perguntas absurdas e as supostas ingenuidades contidas poderiam apontar um novo caminho para um mundo em permanentes transformações – e ao transformar o mundo o ser humano transforma a si mesmo, como ensinou Karl Marx.
 
Daí que, o que o professor fez foi tornar-se aprendiz enquanto ensinava, numa dimensão em que só os sábios são capazes de alcançar, buscando sempre o novo numa relação infinita como o saber, sobretudo a partir do contato humano, como pareceu na ocasião. E ao fazer isso se renovava, se transformava permanentemente. Era o devir. A vida, com toda sua magnitude, em pessoa que permanecerá com seus ensinamentos.
 
Autor: Luiz Mário de Melo e Silva (luizmario_silva@yahoo.com.br)
Icoaraci – Belém – Pará.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amazônia, Mel-de-abelha e Cárie?

A bola da vez*

Conhecimento nunca é demais e seu excesso é saudável, por isso recomendável a qualquer idade. Todavia, seu uso fragmentado é pernicioso e tem levado à violência, como demonstra a História, recheada de exemplos.
 
A Amazônia não foge à regra quando não tem demonstrada toda sua potencialidade e acaba por se tornar vítima dessa violência.

Em parte isso ocorre a partir da desvalorização de seus produtos, supostamente por conglomerados econômicos visto que, num mundo dominado pelo consumismo e uma disputa selvagem por espaço, onde o outro tende a ser aniquilado, as mercadorias amazônicas são consideradas de qualidade inferior, e, em alguns casos, sugeridas como nocivas, daí a opressão, logo, violência. Quem esquece da ênfase dada ao açaí quanto à doença de Chagas?
 
Nada contra informar o consumidor sobre o benefício ou malefício do produto, aliás, é de vital importância. A questão é a hipervalorização do que é negativo, tendendo à deturpação, ao isolar apenas uma substância da totalidade de sua composição.

Outro caso de suposta tentativa de desvalorização dos produtos amazônicos ocorreu por conta da apresentação do Trabalho de Curso (TC) pelas alunas Helane Glayde e Nayana Souza, alunas egressas do curso de Odontologia do Centro Universitário do Pará (Cesupa), como publicado no jornal Diário de Pará, em 07/02/2011.

Quem depara com a matéria intitulada “Estudo paraense descobre que xarope provoca cárie” não pode deixar de sentir certo desconforto com a ênfase dada à ação do mel, base do medicamento em questão.

Num franco processo de reducionismo, tomando o todo pela parte, onde o destaque é a maior acidez e menor ph do mel., há talvez a sutil tentativa de induzir ao equívoco quem faz uma leitura apressada do assunto tratado, até porque, a sacarose (açúcar), substância predominante no mel, como é do conhecimento de todos, é a grande preocupação dos pais na alimentação das crianças, justamente pelos malefícios causados, pois é encontrado em grande parcela de alimentos e xaropes das mais variadas marcas – embora sua metabolização pelo organismo seja benéfico como fonte de energia.

É claro que isolado e em contato com outras substâncias, com igual ou maior teor de acidez, encontradas nos mais variados alimentos e em reação química permanente, pode haver o surgimento da patologia dentária, segundo o estudo, observação que o mesmo, como demonstra a matéria, foi omisso. 

Ora, o contrário do enfatizado no estudo sobre o mel é de imperiosa necessidade para se ter ciência verdadeira, pois como possuidor de nutrientes (a obviedade é proposital e necessária), estes em reação à nutrientes de outros alimentos certamente tornará os dentes mais resistentes ou, quem sabe, até imunes à afecções naturais. E sendo isso solenemente escamoteado, não fica bem a uma pesquisa científica, com a obrigação de observar e orientar sobre as vantagens e desvantagens de qualquer medicamento – o que denota um viés tendencioso. Teria sido esse um fato deliberado ou consequência de algum descuido?

O certo é que, como ocorreu ao açaí - que, com a máxima valorização do protozoário, causador da doença e algo externo à fruta, motivando o amazônida a se manter como mero colono e deixando de ser produzido “artesanalmente” para consumo e exportação, passando a ser comercializado in natura em grandes escalas por indústrias, talvez até estrangeiras, causando a perda do controle sobre algo genuíno desse povo - o mesmo tende a ocorrer com o mel e, sobretudo, com a própria Amazônia  se constantemente houver estudos desse tipo, além é claro do silêncio obsequioso das autoridades  e da sociedade dita esclarecida.

Portanto, num mundo dominado pela ciência (ainda que esta, por questão política, tenda a ser apanágio da elite, e por isso se transforme em pseudociência quando exposta ao povo) e tecnologia é fundamental para a Amazônia e para o mundo que o conhecimento seja total, sem contra-indicação, pois mais do que nunca a humanidade depende da biodiversidade, essência da Amazônia. Esta que engendrou naturalmente seu conhecimento sem discriminar outros saberes e assim manteve-se como fonte e exemplo de vida não pode ser a bola da vez, no que diz respeito à degradação, a partir de seus produtos, por conta de interesses escusos no cassino do capitalismo moribundo e - por isso - desesperado. 

*Autor: Luiz Mário de Melo e Silva (luizmario_silva@yahoo.com.br)
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI), Icoaraci – Belém – Pará