Guerra de ciências
A questão ambiental tem proporcionado um fenômeno curioso, demonstrando que estamos vivendo um período de transição. O fato é a “guerra entre ciências”, onde cada uma delas procura convencer a opinião pública sobre a sua validade, denotando outros tempos; e muito do que foi utilizado anteriormente talvez já não tenha serventia no atual contexto, embora muitos argumentos, influenciados por incentivos financeiros, tendem a se apresentar como os mais viáveis, daí sua capacidade de convencimento.
Estes se valem da idéia de desenvolvimento econômico para desdenhar de toda opinião contrária, escondendo, porém, que a obtenção do lucro a todo custo é o objetivo e não o bem-estar social, sobretudo a preservação da natureza. A outra opinião, embora não seja totalmente contrária ao desenvolvimento, se opõe por entender que a Natureza não pode, por conta do consumismo sem fim, ser explorada de modo extravagante.
A primeira tem por base a ciência econômica capitalista, que, como todos sabem, trabalha com o dogma de que o homem é um ser desejoso - e por isso insaciável -, além do que a grande maioria de suas regras se estabeleceu sob a força das armas (vide a imposição do dólar como moeda mundial, após o uso de duas bombas atômicas sobre cidades japonesas quando a 2ª Guerra Mundial estava “tecnicamente” encerrada, para ficarmos apenas num exemplo), ensejando uma ciência coercitiva. Seria isto possível? Bem, a falta de espaço remete o tema à próxima oportunidade.
Já a segunda, se vale de experiências que não cabem nas vitrinas, tampouco satisfazem o consumismo para se justificar. E tem como exemplo a Amazônia, que, é o que é justamente por ficar alheia ou - de modo prático – nunca ter tido o uso da ciência que devastou outros biomas, sendo, talvez, por isso, a soma de todos os biomas.
E embora o assunto seja planetário e os exemplos infinitos para descrever a questão, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte (HBM), na região amazônica, é um excelente exemplo de como alguns argumentos são amazonicamente equivocados.
Isto pode ser observado, entre outras, na opinião do sr. Nagib Charone Filho, engenheiro civil e professor da UFPA, onde, por ocasião do artigo “O Buldogue de Darwin e o debate de Belo Monte” (O Liberal, 21/02/2010), é, segundo o autor, demonstrado que os opositores da HBM “tentam demolir os fatos científicos com argumentos fictícios, com sofismas, retóricas vazias e escorregadias”. O texto expõe a comparação da atitude do zoólogo e antropólogo Thomas Henry Huxley, amigo Darwin e defensor canino de sua teoria em debate com o bispo anglicano, Samuel Wilberforce, e sugere que os defensores da HBM se assemelham a Huxley, o “Buldogue de Darwin”, como este ficou conhecido pelos seus pares e alunos, “tendo em vista a veemência com que se punha a frente de Darwin, suprindo os argumentos e o desassombro que o amigo não tinha”.
O que o profº esquece (como muitos de seus simpatizantes) é que a “teoria da evolução pela seleção natural”, apresentada no livro “Origem das Espécies”, na Inglaterra, em 1859, de Charles Darwin, era uma novidade à época e, como tal, seria a base de um novo ramo da ciência, algo que não ocorre com os projetos que tendem a ser impostos à região amazônica, e, que, numa comparação sorrateira com o ocorrido com Huxley, imagina ser o melhor para definir a posição das “viúvas da tardia Revolução Industrial”, chegada a Amazônia.
A confusão gerada deste argumento, certamente visa apenas a manutenção do capitalismo, fantasiado de novidade. O curioso, e aí poderia estar a novidade, é quanto a um professor de uma Universidade incrustada na Amazônia não “perceber” que os tempos mudam, assim como demonstrou o lançamento da referida obra, e que outras fontes de energia, como a eólica e a solar, por exemplo, seriam, estas, sim, o novo para a região, bem como adequadas para tentar conter a degradação da Natureza.
Ora, e o que propõe o segundo grupo, senão justamente o novo, algo semelhante ao apresentado em 1859? E não o que o professor afirma, pois a Natureza nunca teve tanto a atenção merecida como agora por ocasião da real possibilidade de exaustão de seus recursos, logo, da vida, como ocorreu à várias espécies; e por isso “reclama” o uso de um de seus subprodutos, a inteligência, contra o falso argumento do bem-estar geral que esconde o objetivo nefando do capitalismo. E a Amazônia é o que é – repita-se! - por se haver à margem da ciência do centro, sobretudo a capitalista, o que não a impediu de engendrar sua própria ciência, apresentando-a agora como novidade para o mundo.
Portanto, são os defensores de uma nova visão de mundo (um novo ramo da ciência num outro mundo possível) que mais se assemelham ao “Buldogue de Darwin” e não o contrário, como quer fazer crer o citado professor, para quem, talvez, a ciência coercitiva (?) capitalista com seu processo alienante (segundo Karl Marx) deva prevalecer.
E para levá-la adiante basta que os amazônidas da cidade usem de sua inteligência para “investir no conhecimento dos nacionais sobre sua própria riqueza, ao invés de ir atrás do bloco da conspiração e da fantasmagoria. Ao meio-dia” (Lúcio Flávio Pinto, em seu artigo “Água pirateada”, no Jornal Pessoal), fazendo disto a arma em defesa da ciência da Amazônia, porque os da mata, da beira dos rios etc, já a praticam muito antes da outra ciência, sem nunca terem saído de seu torrão e imposto seus conhecimentos e saberes a outros povos - mas que, se necessário for, não devem hesitar em fazê-lo, jamais.
Autor: Luiz Mário de Melo e Silva;
e-mail: luizmario_silva@yahoo.com.brEstes se valem da idéia de desenvolvimento econômico para desdenhar de toda opinião contrária, escondendo, porém, que a obtenção do lucro a todo custo é o objetivo e não o bem-estar social, sobretudo a preservação da natureza. A outra opinião, embora não seja totalmente contrária ao desenvolvimento, se opõe por entender que a Natureza não pode, por conta do consumismo sem fim, ser explorada de modo extravagante.
A primeira tem por base a ciência econômica capitalista, que, como todos sabem, trabalha com o dogma de que o homem é um ser desejoso - e por isso insaciável -, além do que a grande maioria de suas regras se estabeleceu sob a força das armas (vide a imposição do dólar como moeda mundial, após o uso de duas bombas atômicas sobre cidades japonesas quando a 2ª Guerra Mundial estava “tecnicamente” encerrada, para ficarmos apenas num exemplo), ensejando uma ciência coercitiva. Seria isto possível? Bem, a falta de espaço remete o tema à próxima oportunidade.
Já a segunda, se vale de experiências que não cabem nas vitrinas, tampouco satisfazem o consumismo para se justificar. E tem como exemplo a Amazônia, que, é o que é justamente por ficar alheia ou - de modo prático – nunca ter tido o uso da ciência que devastou outros biomas, sendo, talvez, por isso, a soma de todos os biomas.
E embora o assunto seja planetário e os exemplos infinitos para descrever a questão, a construção da Hidrelétrica de Belo Monte (HBM), na região amazônica, é um excelente exemplo de como alguns argumentos são amazonicamente equivocados.
Isto pode ser observado, entre outras, na opinião do sr. Nagib Charone Filho, engenheiro civil e professor da UFPA, onde, por ocasião do artigo “O Buldogue de Darwin e o debate de Belo Monte” (O Liberal, 21/02/2010), é, segundo o autor, demonstrado que os opositores da HBM “tentam demolir os fatos científicos com argumentos fictícios, com sofismas, retóricas vazias e escorregadias”. O texto expõe a comparação da atitude do zoólogo e antropólogo Thomas Henry Huxley, amigo Darwin e defensor canino de sua teoria em debate com o bispo anglicano, Samuel Wilberforce, e sugere que os defensores da HBM se assemelham a Huxley, o “Buldogue de Darwin”, como este ficou conhecido pelos seus pares e alunos, “tendo em vista a veemência com que se punha a frente de Darwin, suprindo os argumentos e o desassombro que o amigo não tinha”.
O que o profº esquece (como muitos de seus simpatizantes) é que a “teoria da evolução pela seleção natural”, apresentada no livro “Origem das Espécies”, na Inglaterra, em 1859, de Charles Darwin, era uma novidade à época e, como tal, seria a base de um novo ramo da ciência, algo que não ocorre com os projetos que tendem a ser impostos à região amazônica, e, que, numa comparação sorrateira com o ocorrido com Huxley, imagina ser o melhor para definir a posição das “viúvas da tardia Revolução Industrial”, chegada a Amazônia.
A confusão gerada deste argumento, certamente visa apenas a manutenção do capitalismo, fantasiado de novidade. O curioso, e aí poderia estar a novidade, é quanto a um professor de uma Universidade incrustada na Amazônia não “perceber” que os tempos mudam, assim como demonstrou o lançamento da referida obra, e que outras fontes de energia, como a eólica e a solar, por exemplo, seriam, estas, sim, o novo para a região, bem como adequadas para tentar conter a degradação da Natureza.
Ora, e o que propõe o segundo grupo, senão justamente o novo, algo semelhante ao apresentado em 1859? E não o que o professor afirma, pois a Natureza nunca teve tanto a atenção merecida como agora por ocasião da real possibilidade de exaustão de seus recursos, logo, da vida, como ocorreu à várias espécies; e por isso “reclama” o uso de um de seus subprodutos, a inteligência, contra o falso argumento do bem-estar geral que esconde o objetivo nefando do capitalismo. E a Amazônia é o que é – repita-se! - por se haver à margem da ciência do centro, sobretudo a capitalista, o que não a impediu de engendrar sua própria ciência, apresentando-a agora como novidade para o mundo.
Portanto, são os defensores de uma nova visão de mundo (um novo ramo da ciência num outro mundo possível) que mais se assemelham ao “Buldogue de Darwin” e não o contrário, como quer fazer crer o citado professor, para quem, talvez, a ciência coercitiva (?) capitalista com seu processo alienante (segundo Karl Marx) deva prevalecer.
E para levá-la adiante basta que os amazônidas da cidade usem de sua inteligência para “investir no conhecimento dos nacionais sobre sua própria riqueza, ao invés de ir atrás do bloco da conspiração e da fantasmagoria. Ao meio-dia” (Lúcio Flávio Pinto, em seu artigo “Água pirateada”, no Jornal Pessoal), fazendo disto a arma em defesa da ciência da Amazônia, porque os da mata, da beira dos rios etc, já a praticam muito antes da outra ciência, sem nunca terem saído de seu torrão e imposto seus conhecimentos e saberes a outros povos - mas que, se necessário for, não devem hesitar em fazê-lo, jamais.
Autor: Luiz Mário de Melo e Silva;
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI) (Icoaraci – Belém – Pará)
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A referida matéria de "O Liberal" que o autor se refere é esta (clique na imagem para ampliar):
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