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"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"
(Douglas Adams, 1952-2001)

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sábado, 5 de novembro de 2011

(A Amazônia) é a maior "zônia"?


A Amazônia e Maquiavel

por Luiz Mário de Melo e Silva
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI)
luizmario_silva@yahoo.com.br / (91) 83636720
Icoaraci – Belém – Pará.

A História não retroage muito menos a natureza e qualquer tentativa em congelar o fluxo de ambas é, no mínimo, crime contra a humanidade em seu processo permanente de evolução. Todavia, isso é tentado constantemente e Maquiavel é convocado para tal tarefa, sobretudo pelos políticos, num claro ato de corrupção.

Quando da produção de O Príncipe, obra que imortalizou Maquiavel, a Itália era  um campo de batalhas entre iguais e seu autor tinha a intenção de unificação – algo diametralmente oposto ao que intentam contra a Amazônia, porque os tempos são outros e como diria o poeta “o tempo não para”, e, por isso,  Maquiavel, mais que algo a explicar , é o complicador.


Se O Príncipe é um tratado, um manual de política para a conquista e manutenção do poder é imperioso pensar, então, que o poder, almejado pela razão, não deve ser exercido por alguns poucos, porque razão e poder tendem a ser os mais elevados potenciais humanos para a manutenção da convivência em sociedade e a razão para tal exercício não deve ter distinções, sob pena de ser algo opressivo porque tende negar a capacidade do pensamento critico para a existência da razão.


À época de seu aparecimento e, sobretudo, pelas circunstâncias em que é elaborada, a obra é mais que necessária, porque renascentista valoriza o ser humano com aquilo que o liberta do obscurantismo da Idade Média, imposta pela Igreja Católica, que é a razão que almeja o poder para a liberdade do ser humano.

Contudo, é importante lembrar que no período renascentista a razão encontra respaldo na incipiente ciência e tem nela uma fortíssima aliada para lutar contra o “poder teocrático” da igreja – aliás, a aliança descambou em tutela da ciência, a qual, hoje, parece ser tratada como instrumento para a manipulação da maioria, e com isso, vindo a torná-la como um arremedo da inteligência (a pseudociência), tendendo a incorrer no mesmo erro que envolve a razão.


No atual contexto, o uso de Maquiavel evoca um passado que não mais retorna, e o que se vê é “o futuro repetir o passado” (...) num “museu de grandes novidades”, como diria o poeta Cazuza. E embora ainda encontre efeitos positivos o florentino está em oposição ao fluxo citado anteriormente, valorizando a máxima de Karl Marx, em que “a História se repete como farsa”.


Ora, isso ocorre porque há a tentativa em manter intacto o status quo do combalido capitalismo que passa por crises intermináveis e só sob trevas tende a se manter inabalável, como ocorreu ao Império Romano às vésperas de sua derrocada, bem como à Igreja Católica, cada qual à sua época, que são exemplos de oposição ao processo de transformação, despendendo, para isso, de grande esforço conservador. E claro que a manutenção – mais importante que a conquista ­- do poder capitalista está na ordem do dia e é preferível a corrupção às atrocidades da guerra (embora esta não esteja de toda descartada) que se espraia aos quatro cantos do mundo, com a globalização.


E nada melhor que a estratégia maquiavélica da corrupção para justificar o fim a que se propõe que é manter o capitalismo. O que se dá por meio da educação repetitiva, enfatizando um centro de controle, como impõem as carcomidas culturas elitistas ocidental e oriental, que se pretendem eternas, muito embora o empirismo, como base do referido trabalho, seja um dado fundamental para a construção e manutenção de algo que se pretenda como real, o que não garante  a eternidade.


No entanto, isso se mostra, no mínimo, perigoso porque como nunca houve uma enorme quantidade de determinada espécie como é a humana, caracterizada pela razão, que não poderá ser impedida por muito tempo de utilizar esse potencial para sua conservação, seu impedimento, em tal circunstância, poderá produzir monolíticos monstros assassinos (um leviatã irracional, por exemplo). Além do que, já não mais estaremos falando de ser humano em sua plenitude e, sim, de algo sem valor (haja vista que este é gerado pela razão) que não merece respeito e consideração; aliás, como vem ocorrendo em diversas situações mundo afora.

Alguém poderia notar que a resistência dos amazônidas à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHBM) poderia evocar um contexto quixotesco. Isso se não houvesse a natureza exigindo sua fatura. E nada melhor de quem ou o quê sempre manteve o elo entre “desenvolvimento” e “atraso” para opinar sobre tema tão polêmico – mas inevitável – como são os índios. Ademais, a unificação proposta por Maquiavel só é possível de ser entendida, atualmente, se observarmos que na natureza ela sempre foi uma constante com o objetivo de garantir a vida por meio da evolução que necessita de todos os elementos existentes, em perfeita simbiose, tornando cada vez mais complexo (amplo) o que surge ao contrário da proposta anterior que é manter estável (ou estático) o que surgiria. 

Portanto, o que se apresentava como novidade, como ocorre ao conhecimento em seu surgimento, tende a se tornar informações, às vezes irrelevantes, com o passar do tempo, embora, ainda assim, possa ser usada como algo positivo por opressores espertalhões contra incautos, obviamente desprovidos de razão crítica, para que estes não percebam o quanto sofrem manipulações e assim, na ignorância, tentam garantir, ad aeternum, a manutenção de uma ordem que se esvai, principalmente por não poder se opor ao tempo concretamente percebido por meio da História e da natureza, sobretudo esta como nova linguagem – aliás, refinada através da ciência, esta que pode ser utilizada para o benefício ou malefício da humanidade, como usou Maquiavel para iluminar o mundo no séc. XVI, e que, hoje, tende a servir para, ao contrário, obscurecê-lo, via corrupção, para justificar a conservação de algo insustentável como a sociedade capitalista/burguesa.  

Algo contra o qual a Amazônia, em sua rica biodiversidade, se apresenta e impõe como divisora de águas. Até porque, para haver Maquiavel é necessário existir Alices, ou doutos Pangloss, que precisam ser superadas para a evolução da humanidade.  


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

por um Anarquismo Amazônida...


Anarquia em relevo

Por Luiz Mário de Melo e Silva

Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci  (FDMAI)

luizmario_silva@yahoo.com.br / Tel.: 83636720

Icoaraci – Belém – Pará.


No dia 07/09, comemorando o dia da independência, o país  foi  tomado por uma série de protestos, sobretudo contra a corrupção. Em Belém, o movimento "Xingu Vivo",  expôs sua contrariedade à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte (UHBM), no Rio Xingu, em Altamira-Pa, além de combater a corrupção.

Se os protestos foram no sentido de garantir e valorizar a res publica, ou coisa pública, por que, então, a aparente contradição entre a defesa e a crítica à coisa pública?

Ora, porque há muito a republica deixou de ser – se é que algum dia o foi – do público, porque o que aí está é privado, particular apossado como foi por meio da corrupção e o autoritarismo do governo, quanto da imposição da UHBM.

Para que isso ocorra, instala-se a anarquia organizada por meio da educação alienante que tem a população como alvo de manipulação e domínio, com a falsa idéia de liberdade para a livre manifestação. Como se vê, tanto a anarquia quanto a república são falsificações – grosseiras, diga-se.

Mas isso não passou despercebido e os autênticos anarquistas reivindicaram, e reivindicarão sempre, o compromisso de fazer valer a verdadeira liberdade ao confrontarem a república instalada no centro da praça com o mesmo nome.

A expressão “VIVA À REVOLUÇÃO SOCIAL” e o símbolo anarquista, escritos sobre o monumento central da praça demonstra o choque entre o que está carcomido pelo tempo e a urgência de mudança em um ambiente que não comporta mais um estado de coisas que beneficia alguns poucos em detrimento da grande maioria - algo só possível porque a população, numa anarquia organizada, é levada a viver  em permanente confronto com os seus iguais, enquanto aqueles que se dizem os responsáveis pela manutenção do bem-estar social só têm olhos para o seu próprio.


Segundo consta nos jornais, a atitude de confrontar a república tinha como alvo “o corte de verba da educação”, como repudiou um manifestante libertário , através da ação e pensamento revolucionários. Pois para uma república corrompida e opressora a valorização da educação não pode ser motivo de liberdade tanto individual quanto coletiva, sob pena de ser letal para os planos de manutenção do status quo.

Mas, como “o que é sólido desmancha no ar”, segundo escreveu Karl Marx, a república que se assiste tem seus dias contados por se sustentar em uma base apodrecida, como é o capitalismo, que vem dando mostra mundo afora de seu esgotamento.

Aliás, só não houve ainda o funeral porque o moribundo assenta-se sobre zumbis moldados pelos educadores “coveiros de sonhos”, estes exímios em desviar a atenção da população sobre a falência em que se encontra a sociedade capitalista, pois se seu cerne (o capitalismo) for colocado sob as lentes da rigorosa ciência (e não a tutelada como ocorreu desde a aliança entre burguesia e ciência, na Idade Média, para combater o poder da Igreja Católica Apostólica Romana, assunto a ser tratado em momento oportuno)  ambos já não se sustentam - o que ainda ocorre porque a pseudociência (fomentada pela veste da educação alienante) empana a percepção de que já não há dinâmica no capitalismo. Até porque atingiu seus limites que são por um lado a economia financeira, ou especulativa, último estágio e, por outro, o mercado que, com a globalização, não há mais para onde expandir (a menos que surgisse outro mercado entre os animais, coisa não de todo impossível nestes tempos de alienação), permanecendo em estado de oscilação constante como se evolução fosse, iludindo, então, incautos num processo de idiotização da humanidade.

Daí que, mais que uma atitude de “vandalismo”, como pretende a falsa república com sua ideologia e o falso anarquismo (logo, sua idéia de vandalismo é falsa) a mascarar o crepúsculo de uma era, com ídolos com pés de barro, a frase com o sentido que a ensejou, sob os pés da estátua de uma criança - símbolo do novo – é, ao contrário, o que mais se apresenta de vigor, num porvir contra a corrupção e o autoritarismo, haja vista que a corrupção e a UHBM são mortes, consequências de uma sociedade decadente e em desespero. E o anarquismo é liberdade, é vida, sobretudo a partir do solo amazônico onde ocorreu o fato em questão. 

Pois, bem como para o amor e para a vida, também para o verdadeiro anarquismo, não existe o futuro. O amanhã é agora, já!

Com muito Amor...


As Vadias
Por Luiz Mário de Melo e Silva 
Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI)
Icoaraci – Belém – Pará.

A humanidade deve sua existência a uma vadia. E que Vadia!, que jamais se submeterá a alguém. Aliás, a tentativa de imposição dessa proposta tem levado a humanidade a sofrer as maiores tragédias de que se tem notícia, coisa que tende a mudar, para a felicidade geral.

A Vadia em questão é a natureza que, na sua vadiagem, deu a luz a quem pretende ser seu algoz e sua porta-voz é a mulher, que, semelhante à vadia-mor, tem vivido as mesmas situações. Na verdade, não há distinções e todas acabam por serem una quando se observa, sobretudo, a capacidade de decidir sobre a vida.

Quem assistiu a Marcha das Vadias ocorrida em Belém, no dia 28/08/10, certamente ficou impressionado e não teve como ficar impassível diante do que se passava, pois as mulheres que ali estavam mostravam uma desenvoltura assustadoramente saudável quando se reflete sobre o que traziam  - e pretendem - seus olhares, gestos, cantos, discursos e palavras de ordem, sobretudo a que dizia “Se o papa fosse mulher o aborto seria legal!, seria legal, seria legal!”. Entre tudo que ocorreu, isso talvez fosse o que mais chamou a atenção.

A palavra era entoada com uma fúria que arrepiava qualquer um, ainda mais se comparada à força da mãe natureza quando se manifesta aos homens através de fenômenos de todos conhecidos.

Também, não era para menos, pois, assim como a natureza sempre foi escamoteada e com isso oprimida, as mulheres, também, historicamente são vítimas de abusos de toda ordem, sejam eles físico, psicológico e ideológico impostos, infelizmente, pela moral masculina - diga-se -, que começa a ser contraditada pela  bagunça que se assiste mundo afora, justamente organizado pelo costume imposto pelos homens – algo inteligentemente percebido pelas feministas quando definem que “a objetividade é a subjetividade masculina”.

Pois o brado em questão, se bem pensado, remete a ideia de liberdade que todos almejam, algo que é inerente tanto à natureza quanto ao ser humano, o que, aliás,  tende a explicar o que se entende por  “natureza” humana em sua mais peculiar característica, haja vista que na primeira a liberdade é total enquanto que na segunda tal pensamento se acha condicionado pela moral – coisa que as mulheres têm tentado superar ao longo dos tempos, embora pareçam não serem atendidas em sua reivindicação.

Aliás, outra coisa em que as mulheres foram muitíssimo felizes foi o fato de não  terem dado à marcha a conotação de algo sexista, pois em consonância com a natureza, que não discrimina ninguém e, ao contrário, nivela a todos e todas ao mesmo grau de importância, e por causa disso fez com que conquistassem mentes e corações de muitos homens ali presentes, ainda que fosse namorados, maridos, amantes ou simplesmente simpatizantes, numa simbiose maravilhosa, onde talvez aqueles homens também se sentissem oprimidos por uma condição que não fora elaborada por eles e acompanhando-as pudessem se sentir um pouco mais livres.

Daí, que venham as Vadias. Pois que, sendo as culpadas pela perda do paraíso, proporcionaram, ainda que com seus sofrimentos, a condição para que a humanidade possa fazer uso da inteligência para alcançar a liberdade, atributos da Vadia maior, tão bem representada pelas mulheres, em sua condição de parideiras (ou não) de algum suposto salvador – coisa que a natureza não tá nem aí.