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"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"
(Douglas Adams, 1952-2001)

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Naturezas

A natureza e deus

Por Luiz Mário de Melo e Silva 

Ao longo do tempo, o ser humano vem construindo sua história que desemboca em sociedades com modos peculiares de convivências, obviamente. Atualmente, porém, vemos delinear-se no horizonte uma nova sociedade que não é fruto de construção alguma, mas, ao contrário, é da destruição, para que houvesse seu conhecimento. É o caso de um mundo novo voltado para a valorização da natureza, pois, foi justamente em consequência da exaustão de seus recursos que chegamos (ou construímos?) a algo novo. Ou seja, ação humana direta.

Concomitante a isso a cultura floresce, deixando mais que evidente o quão fundamental é a importância da natureza, afinal, ela está na base de tudo, consolidando aquilo que se delineia com a prática humana. Que o digam os gregos antigos que, supostamente, entre tantos motivos, devido à carência de recursos naturais desenvolveram o culto à natureza por meio do culto de deuses, onde cada qual representava suas forças e elementos – sendo interessante notar a “invenção” de deuses, na cultura ocidental, sem que, no entanto, os gregos se arvorem como seus donos, como pretendem muitos religiosos (assunto para um momento oportuno).

Nesse sentido, a cultura grega criou uma espécie de fuga da miséria real para a riqueza ilusória (semelhante aos retirantes nordestinos), residindo talvez nisso a beleza da tragédia grega, que influenciou todo o mundo. Ou seja, na miséria (a fome), a invenção de deus é a solução (o alimento); como bem postulara Nietzsche: “o desejo de metafísica vem de uma fraqueza fisiológica”.

Ora, já não pode mais ser escamoteado o poder e a importância da natureza para a humanidade, pois, além de fomentadora de cultura, é incomparavelmente fonte de toda riqueza.

Ocorre que, como o ser humano se diferencia (?) dos outros animais pela cultura, reelaborando permanentemente e criando símbolos no espaço em que vive, tende a criar através da cultura um meio ambiente artificial, ou social, em oposição ao meio ambiente natural, sem, no entanto, nunca ter sido apartado verdadeiramente deste. 

E neste ponto reside uma grande confusão sobre como deve caminhar o mundo. Sendo orientado por aqueles que pretendem preservar a natureza ou por quem quer explorá-la ao máximo, destruindo-a? É claro que isso envolve decisão política em nível mundial, enfatizando, todavia, a cultura daqueles que sempre preservaram a natureza, onde a biodiversidade deve ser a referência, pois ela é de suma importância para compreender e organizar as mais variadas formas de culturas, ou o multiculturalismo, assim como se organizam as mais variadas formas de vida, numa perfeita simbiose. Há que se atentar para o darwinismo social como o mais perfeito modelo de meio ambiente artificial, na atual sociedade capitalista e suas consequências.

Em meio a essa questão, não há como negar o papel da ciência, afinal, como linguagem refinada da natureza ela não pode estar tutelada para servir como mecanismo de controle político com consequência fatal para a humanidade, pois, apresar de todo avanço científico conhecido não há como escamotear  que a miséria permanente  e os riscos para o planeta são assustadores, justo porque a ciência está sujeita a caprichos de uns poucos em detrimento da maioria. Dai que, as experiências culturais de muitos povos que existem em consonância com a preservação da natureza tem de ser utilizadas como modelo de uma nova sociedade mundial, pois embora pareça simplória a visão de quem vive direto em contato com o meio ambiente natural, produzindo sua própria existência, não se pode negar que o indivíduo nessas condições não possui um entendimento  fragmentado do espaço em que vive.

Ao contrário, é riquíssimo o sentido de harmonia que possui - é tanto que parece um ser indolente, sem aparente necessidade de esforço para sua manutenção, justamente por possuir todos os recursos necessários para sua realidade, conseguindo perceber a perfeita relação que há na natureza. Um excelente exemplo dessa visão é a fotografia em que as copas das árvores da beira do rio se tocam, embora apareçam separadas pelo próprio rio. Ora, há algo mais unificador que a água? Outro exemplo ocorre com a população ribeirinha que convive entre o rio, o chão firme e a floresta. Ora, querer então que a natureza seja representada por apenas um de seus elementos é realimentar o ponto de vista grego de natureza que não corresponde, sobretudo no ambiente amazônico, que dirá mundial. Ou seja, uma perspectiva reducionista.

 
(Foto: Paulo Guilherme Pinheiro II, 2012. Publicada em: Burrizes)

Alguém poderia observar que há uma semelhança entre a história de colonização das cidades gregas e o Brasil, onde ambos sofreram a invasão de vários povos, levando-os ter um povo miscigenado, e consequentemente uma cultura riquíssima. O corre que, diferente do Brasil, a Grécia Antiga não teve seus nativos desconsiderados, escravizados, em parte, até, ainda que esse período seja conhecido como período Homérico, Idade Média Grega ou Idade das Trevas, época em que prevalecia a mitologia, e por meio dela pudesse haver uma relação mais respeitosa com a natureza, ainda que não de toda verdadeira, pois nela não há deuses e, sim, a vida como o centro de tudo que não faz distinção do mais simples ao mais complexo dos seres. Ao contrário do Brasil que todos conhecem o porquê da colonização.

Nesse sentido, fragmentar a natureza pra tentar entender e dominá-la  é o mesmo que separar o cérebro do corpo para falar do ser humano completo ou separar a semente do chão fértil e pretender que se torne árvore com bons frutos. Ou, ainda, achar que deus tem alguma importância sem a existência o ser humano, para venerá-lo(?), haja vista que ele (ser humano) é a natureza condensada.


* Coord. do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI).
E-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br / Tel.: 83636720
Icoaraci – Belém – Pará

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