Cultura da hipocrisia
Por Luiz Mário de Melo e Silva
E-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br
A miscigenação até que poderia fazer do brasileiro um povo que supera todas as dificuldades. E que se supera. Mas o que seria o motivo para engrandecimento, ao contrário, é fonte para a derrocada.
Num país tropical, como o Brasil, o cruzamento inter-racial dotaria a população de capacidades para se adaptar e enfrentar as intempéries. Todavia, esse cruzamento estancou naquilo que mais se torna nocivo ao povo, ou seja, a cultura.
Se do ponto de vista biológico tal mestiçamento é benéfico, do cultural, não se pode dizer o mesmo, pois a tentativa de impor a cultura de uma “raça”, criou um ambiente onde viceja a corrupção, numa envergadura nunca antes vista no mundo. Ou seja, é a cultura da hipocrisia.
Sim, porque, tomando como base duas autoridades do país, no caso o ex-presidente Lula e o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa e, sobretudo, suas respectivas histórias e origens semelhantes haveria de se acreditar que ambas estariam irmanadas no trabalho de fazer deste um país soberano onde vigora a igualdade, a fraternidade, a liberdade e – em última instância - a justiça.
Mas não é isso que ocorre. E esse fato pode ser observado nas críticas que o ministro Joaquim Barbosa recebeu e ainda recebe por parte de muitas pessoas que têm profundos vínculos (ou devem a própria vida, as suas existências) a partidos políticos, como se eles fossem a razão de ser de uma sociedade moderna e não feudal, como ora acreditam - e se comportam - algumas dessas organizações, talvez até criminosas.
Ora, as opiniões raivosas não têm sentido, pois a atitude do ministro foi a mais correta possível, e não poderia deixar de ser, ao seguir, ou prosseguir, na busca da verdade a partir da constatação da maior autoridade do país, à época o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto a prática do crime de “caixa 2”, utilizada por seu partido e os demais, em entrevista pública.
Tanta celeuma em torno da Ação Penal 470, popularmente conhecida como “mensalão”, julgada pelo STF, para esconder o óbvio constatado por duas autoridades públicas, tende a uma finalidade: manter a sangria dos cofres públicos. A corrupção.
Ou seja, uma pequena classe (ou “raça”) se prevalece do uso de todas as condições possíveis e imagináveis para ludibriar e impor sua cultura (ou sua razão) a um país. É tanto que o partido que foi atingido em cheio por esse crime, não faz questão de fazer aquilo que pregava na sua origem, ou seja, a união popular, exigindo em praça pública a apuração a fundo do começo e o desenrolar dessa, e de toda, trama macabra que vitima o povo. É estranho. Muito estranho! Será que o esquecimento (para não dizer outra coisa) dessa característica, tão peculiar, que lhe valeu o reconhecimento como o partido mais ético, tem por finalidade fazer valer a cultura da hipocrisia? Ou será que já está valendo, se tomarmos esta como a República da Corrupção, pois os fatos só se avolumam, numa proporção como nunca antes na História? Estariam tentando poupar alguém? A miscigenação política criou a anticultura, para a miséria de um povo.
Mas como estamos falando de um povo miscigenado, acredito piamente que é possível vencer essa, agora, anticultura desde que aqueles que possuem alguma informação contrária a ela, possa compartilhar com a população para que se proteja, se defenda. Ficar calado sobre ela é alimentá-la. É nutrir a corrupção.
Ou seguir o exemplo da juventude rebelde que não se curva diante de um tempo em que pregar uma coisa mas praticar outra é a vírtu (lembrando Maquiavel). Os exemplos são muitos. Há até aqueles que morrem levados pela hipocrisia (consumo de drogas) mas não se rendem, não se entregam a ela.