Cultura Amazônida
Por Luiz Mário de Melo e Silva*
Quem desfruta do “paraíso”, jamais precisará de ilusões para satisfazer suas necessidades. È só estender a mão e apanhar o que é de seu interesse, o que tende a fazer com que a avaliação sobre quem vive nessa condição seja de pessoas indolentes, como o corre ao amazônida. Mas isso é coisa que nunca se confirmou e, agora, a verdadeira característica da região se apresenta a contragosto de muitos que pejorativamente tratam os nativos.
Não há como negar que a região amazônica detém tudo o que até hoje foi, é e será vital para a existência da humanidade. E a ciência, como marco das relações entre os povos e pensada como algo distinto da natureza perde tal distinção ser atentarmos que ela é sua linguagem refinada, escapando, por isso, aos cânones vigentes nas academias, se firma como mais uma das riquezas da Amazônia. Portanto, o povo amazônida trabalha e toma “ciência” do fato à sua maneira.
Sendo coerente tal raciocínio, o que leva o povo desta banda ser taxado de maneira depreciativa? A explicação possível é a de que aqueles que aqui chegaram como colonizadores (invasores), tangidos pela pobreza ambiental (e econômica) de seus países, impuseram um sacrifício a quem não necessitava, justamente por possuir as condições fundamentais para manter a si e aos seus. Os índios eram considerados preguiçosos por não se submeterem ao sacrifício, sendo, então, os negros que ocupariam a degradante condição social da escravidão - ora, ao amazônida não cabe a culpa pela miséria de outros povos.
Ocorre que a maneira depreciativa foi a forma encontrada para sufocar, no nascedouro, a cultura original da terra e a introdução da religião Católica e do gado bovino, foram os grande baluarte colonialista a impedir a cultura nativa, relegando-a ao esquecimento.
O boi-bumbá, as festas da quadra junina e, sobretudo, o Círio de Nazaré são as maiores manifestações culturais atualmente. Ou seja, a cultura ao touro (minotaurocultura) somada à ideologia religiosa em nada representam a cultura amazônica em sua originalidade, que tem na culinária e na música (carimbó), a primeira comercialmente e a segunda, numa pálida aparição, sua referência.
Aliás, o povo que segue o cordão do boi é o mesmo que amanhã seguirá feito gado na corda em direção ao matadouro, como são conduzidos os bois aos abatedouros existentes nos interiores do estado.
Todavia, como dito anteriormente, a falta de força ou de estímulo para atuar no momento oportuno mostra-se falaciosa quando se observa ações individuais e coletivas, como a do jornalista Lúcio Flávio Pinto e do Movimento Xingu Vivo, respectivamente.
O primeiro, com seu jornalismo investigativo, desnuda os bastidores do poder que – diga-se – nada mais é que a sucursal da matriz colonial a impor suas vontades, fazendo este estado crescer feito rabo de cavalo: sempre para baixo. Numa, infelizmente, referência a submissão às decisões tomadas longe – e contra - da Amazônia.
Já o Movimento Xingu Vivo, com atuações enérgicas contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, onde seus integrantes se apresentam dispostos a entregar a própria vida pela causa, enterra de vez a idéia de que o povo desta terra não sabe o que quer.
E embora ambos tendam a representar extremos, o jornalista, com nuaces de erudito (elitista talvez) e o movimento, com algo de popular ao serem ferozmente perseguidos como criminosos por suas atuações, demonstram que em nada são subservientes às normas externas, logo, à cultura colonial.
Nesse sentido, tanto LFP quanto o MXV são verdadeiros “símbolos” culturais (ainda que poucos e “lentos”) para esta região e que, no devido momento, se apresentam como se apresenta também a natureza por meio de fenômenos como tsunamis, terremotos, secas, enchentes etc., quando tentam submetê-la a caprichos de poucos em detrimento da maioria; daí não confundir a mansidão como cultura original desta terra.
Sendo que sua verdadeira cultura é da coisa comedida, equilibrada e tranqüila por possuir tudo o que de necessário possa haver para a vida. De quem não precisa se desesperar para garantir o amanhã, pois dotado de toda riqueza possível e imaginável o amazônida é a nova referência para o mundo. Isto se a luta de LFP e do MXV for absorvida como cultura, pois para que esta seja verdadeira há que se impor e não, ao contrário, ser imposta.
Portanto, tanto a luta de LFP e do MXV é de autodefesa. Não é ataque puro e simples, aliás, nem se deve falar em ataque e sim em reação, pois, para quem possui como único bem a vida em condições de extremo perigo, sua defesa será – óbvio – descomunal. Como assim também o faz Lúcio em favor da verdade.
Aliás, é de imperiosa necessidade perceber que um povo sem cultura é um povo sem sonho para sonhar... È algo anencéfalo. E seguir o rio vale mais que seguir o boi, como seguir a verdade é mais importante que seguir a “santa”.
* Coordenador do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI).
E-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br/Tel.: (91) 8363 6720
Icoaraci – Belém – Pará
Quem desfruta do “paraíso”, jamais precisará de ilusões para satisfazer suas necessidades. È só estender a mão e apanhar o que é de seu interesse, o que tende a fazer com que a avaliação sobre quem vive nessa condição seja de pessoas indolentes, como o corre ao amazônida. Mas isso é coisa que nunca se confirmou e, agora, a verdadeira característica da região se apresenta a contragosto de muitos que pejorativamente tratam os nativos.
Não há como negar que a região amazônica detém tudo o que até hoje foi, é e será vital para a existência da humanidade. E a ciência, como marco das relações entre os povos e pensada como algo distinto da natureza perde tal distinção ser atentarmos que ela é sua linguagem refinada, escapando, por isso, aos cânones vigentes nas academias, se firma como mais uma das riquezas da Amazônia. Portanto, o povo amazônida trabalha e toma “ciência” do fato à sua maneira.
Sendo coerente tal raciocínio, o que leva o povo desta banda ser taxado de maneira depreciativa? A explicação possível é a de que aqueles que aqui chegaram como colonizadores (invasores), tangidos pela pobreza ambiental (e econômica) de seus países, impuseram um sacrifício a quem não necessitava, justamente por possuir as condições fundamentais para manter a si e aos seus. Os índios eram considerados preguiçosos por não se submeterem ao sacrifício, sendo, então, os negros que ocupariam a degradante condição social da escravidão - ora, ao amazônida não cabe a culpa pela miséria de outros povos.
Ocorre que a maneira depreciativa foi a forma encontrada para sufocar, no nascedouro, a cultura original da terra e a introdução da religião Católica e do gado bovino, foram os grande baluarte colonialista a impedir a cultura nativa, relegando-a ao esquecimento.
O boi-bumbá, as festas da quadra junina e, sobretudo, o Círio de Nazaré são as maiores manifestações culturais atualmente. Ou seja, a cultura ao touro (minotaurocultura) somada à ideologia religiosa em nada representam a cultura amazônica em sua originalidade, que tem na culinária e na música (carimbó), a primeira comercialmente e a segunda, numa pálida aparição, sua referência.
Aliás, o povo que segue o cordão do boi é o mesmo que amanhã seguirá feito gado na corda em direção ao matadouro, como são conduzidos os bois aos abatedouros existentes nos interiores do estado.
Todavia, como dito anteriormente, a falta de força ou de estímulo para atuar no momento oportuno mostra-se falaciosa quando se observa ações individuais e coletivas, como a do jornalista Lúcio Flávio Pinto e do Movimento Xingu Vivo, respectivamente.
O primeiro, com seu jornalismo investigativo, desnuda os bastidores do poder que – diga-se – nada mais é que a sucursal da matriz colonial a impor suas vontades, fazendo este estado crescer feito rabo de cavalo: sempre para baixo. Numa, infelizmente, referência a submissão às decisões tomadas longe – e contra - da Amazônia.
Já o Movimento Xingu Vivo, com atuações enérgicas contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, onde seus integrantes se apresentam dispostos a entregar a própria vida pela causa, enterra de vez a idéia de que o povo desta terra não sabe o que quer.
E embora ambos tendam a representar extremos, o jornalista, com nuaces de erudito (elitista talvez) e o movimento, com algo de popular ao serem ferozmente perseguidos como criminosos por suas atuações, demonstram que em nada são subservientes às normas externas, logo, à cultura colonial.
Nesse sentido, tanto LFP quanto o MXV são verdadeiros “símbolos” culturais (ainda que poucos e “lentos”) para esta região e que, no devido momento, se apresentam como se apresenta também a natureza por meio de fenômenos como tsunamis, terremotos, secas, enchentes etc., quando tentam submetê-la a caprichos de poucos em detrimento da maioria; daí não confundir a mansidão como cultura original desta terra.
Sendo que sua verdadeira cultura é da coisa comedida, equilibrada e tranqüila por possuir tudo o que de necessário possa haver para a vida. De quem não precisa se desesperar para garantir o amanhã, pois dotado de toda riqueza possível e imaginável o amazônida é a nova referência para o mundo. Isto se a luta de LFP e do MXV for absorvida como cultura, pois para que esta seja verdadeira há que se impor e não, ao contrário, ser imposta.
Portanto, tanto a luta de LFP e do MXV é de autodefesa. Não é ataque puro e simples, aliás, nem se deve falar em ataque e sim em reação, pois, para quem possui como único bem a vida em condições de extremo perigo, sua defesa será – óbvio – descomunal. Como assim também o faz Lúcio em favor da verdade.
Aliás, é de imperiosa necessidade perceber que um povo sem cultura é um povo sem sonho para sonhar... È algo anencéfalo. E seguir o rio vale mais que seguir o boi, como seguir a verdade é mais importante que seguir a “santa”.
* Coordenador do Fórum em Defesa do Meio Ambiente de Icoaraci (FDMAI).
E-mail: luizmario_silva@yahoo.com.br/Tel.: (91) 8363 6720
Icoaraci – Belém – Pará